quinta-feira, 15 de julho de 2010

Há algum tempo que não visitava aquele lugar, mas sempre que lá estava sentia-se realmente em casa. Eram boas as memórias que tinha dos momentos que ali tinha passado, durante muitos anos. Quando alí estava sentia-se a revirar o passado, a reviver as histórias passadas entre aquelas muitas paredes. Sentia necessidade de abrir caixas, caixinhas e baús e sentir o cheiro do antigo. A vida tinha feito dela uma mulher melancólica, que vivia muito agarrado ao passado. Gostava de andar na areia e olhar para trás e ver as pegadas na areia. Gostava de olhar para trás. Não deixava de viver o presente, mas o passado ainda estava presente, demasiado presente. Cada experiência da sua vida tinha-a feito crescer, e agora sabia aproveitar cada momento da sua vida da melhor forma. Na verdade, a água da chuva podia fazer crescer as flores mais bonitas com o raiar do sol numa bela manhã de Primavera.
Naquela tarde de Inverno foi para o sótão. Encontrou uma caixa de recordações, uma caixa de bolachas antiga, cheia de pó, debaixo de umas mantas que a tinham aquecido em tempos, nos tempos e que passava muitas horas a ler, e, ao mesmo tempo, a criar histórias dentro da sua cabeça, onde ela era a personagem principal, e ele, ele...ele era o seu príncipe.
E dentro dessa caixa encontrou uma carta que ele lhe tinha escrito, nos tempos de juras intermináveis e histórias mais do que perfeitas. A tal caixinha...
Próximo dessa pequena caixa, onde estavam guardadas tantas verdades, tantos sonhos, tantas juras e tantas promessas que ficaram por cumprir, a maior testemunha daquele amor, estava um cachecol dele. Devia ter ficado alí esquecido, numa daquelas tardes em que as horas passavam a voar e a única verdade das suas vidas era a presença um do outro.
Passado todo aquele tempo, ainda tinha o seu cheiro. O pó quis se entranhar, mas o aroma do corpo daquele homem tinha ficado ali, agarrado àquela peça de vestuário, da mesma forma que outrora esteve agarrado ao coração dela, ao mundo dela, à vida dela.
As lágrimas, dos olhos cintilantes, começaram a correr pela sua cara...tinha saudades, não dele, não daquele amor, mas da felicidade que tinha vivido. E junto ao peito, agarrou no cachecol...aquele odor ainda estava demasiado presente, era-lhe demasiado familiar. E adormeceu com o cachecol junto ao peito, com o perfume dele junto ao peito, com o odor na memória, com as histórias no coração, com as memórias na alma.

2 comentários:

  1. Até que enfim, Cristina. Vês, não custou nada. Foi só pegar na caneta, encostá-la ao papel e o resto acontece. Gostei muito :) Mas é para continuar, não quero ver este recanto abandonado por muito tempo :)

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